Poucas plantas são tão controversas quanto o cânhamo. De um lado, cientistas e naturalistas defendem seu uso medicinal e nutricional, descrevendo os efeitos benéficos na dieta de seres humanos. Do outro, uma lei que proíbe seu plantio, cultura, colheita e exploração. A explicação é simples, trata-se de uma Cannabis sativa, planta que dá origem a uma droga ilícita, a maconha. Apesar do cânhamo não ser a mais procurada das espécies no que diz respeito à fabricação de drogas, possui uma pequena dosagem de substâncias alucinógenas, por isso seu manuseio é proibido pela Lei nº11.343/2006, que trata do Sistema Nacional de Políticas Públicas Sobre Drogas.
Dentre os benefícios, as sementes de cânhamo são ricas em albumina, uma proteína responsável em nosso corpo por aumentar as defesas. Muitos suplementos alimentares utilizados por atletas são ricos dessa substância, porém, é importante ressaltar que a albumina utilizada nesses suplementos é extraída de outras fontes. O uso da substância nos suplementos se dá justamente por garantir mais disposição aos atletas e também por sua ação regenerativa nas fibras musculares. Para aproveitar as propriedades benéficas do cânhamo, cientistas modificaram sementes, de forma que pudessem ser comercializadas, mas não reproduzidas. Ou seja, no caso de uma tentativa de plantio, não havia possibilidade de a planta brotar.
O problema é que a polícia e os demais órgãos de inspeção enfrentaram dificuldades em casos de flagrantes e apreensões, por ser impossível comprovar, sem um exame laboratorial, a diferença entre o cânhamo industrializado e as sementes de maconha propriamente. Desta forma, até a produção legal de sementes modificadas foi proibida em todo o território nacional. Isso gerou um problema até para criadores de aves. Tanto em fazendas avícolas, quanto em casos de criação amadora de diferentes espécies de aves, alguns criadores misturavam sementes de cânhamo na ração dos pássaros, devido à alta concentração de vitamina E. Fazendo isso, eles evitavam o alto custo de suplementos industrializados, além da vantagem de dar aos animais uma refeição mais natural.
Mesmo com a proibição no Brasil, alguns países investem na versatilidade do cânhamo. As fibras da planta são muito utilizadas pela indústria têxtil, por serem mais resistentes do que as do algodão. Também há muita procura dessa planta pela indústria de celulose, devido à rapidez com que a espécie chega até a fase adulta, em comparação com o eucalipto. Atualmente até a indústria cosmética passou a utilizar cânhamo em cremes dermatológicos e hidratantes. Os principais produtores são a China, França, Canadá e Reino Unido. Há ainda o uso do cânhamo na culinária, como um tempero que não é tradicional, mas bastante famoso em diversos países. Ele pode ser usado em bolos, tortas e massas em geral, dizendo os especialistas que é capaz de apurar o sabor. Nesse caso, não há nenhuma propriedade medicinal conservada no produto.